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terça-feira, 31 de março de 2015

Trilogia das cores

      É preciso separar a ação da arte quando se quer apreciar o que há de melhor no cinema francês. A compreensão das cenas é o que menos importa, é preciso degustar os movimentos, o silêncio e principalmente o áudio original. 
      Neste post vou falar especificamente do que observei nesta trilogia. É claro que há muito mais coisas filosóficas para se discutir além das cenas que vou citar. Vou começar pelo primeiro da série , o azul (Bleu) de 1993...sem dúvida o mais dramático!  Para quem não compreendeu ainda os três filmes simbolizam as cores da bandeira da França. Não tem nada a ver com a história da bandeira, tem a ver sim com a visão do diretor polonês Krzystof Kieslowski, representando em histórias de vida: a Liberdade, a Igualdade e a fraternidade.  
      As cenas são realmente mais ricas em detalhes do que em diálogos. O Azul na bandeira da Fraça representa a Liberdade e esta sempre presente na história de "Jullie" (Juliette Binoche). Viúva de um compositor famoso. O acidente de carro no qual ela conduzia também ocasionou na morte de sua filha. A depressão esta sempre presente em sua vida. Jullie se torna fria e o filme ganha um ar misterioso. Sentindo-se culpada, mudou-se para um lugar pior, visitou sua mãe doente que não fazia há anos, fez sexo com um homem que sempre foi apaixonada por ela. Tudo parecia levar a tortura de si própria ou até de um suicídio. Mas Jullie se junta com seu "caso sexual" e decidem terminar a obra de seu ex-marido. Algumas notas dramáticas orquestradas são tocadas ao longo do filme, o que merece meu destaque. Não vou contar o final, até porque você precisa assistir os 3 para saber onde as histórias se cruzam. Toda a amargura é deixada de lado para compor o restante da música (inspirada pelo amor e pela dor). A liberdade é a escolha feita por Jullie de esquecer o passado e seguir a vida (por mais dura que seja) pra frente. OBS: Não recomendado para pessoas que acordam de ressaca ou pós término de relacionamento na segunda feira garoando! Ou pode ser tudo que você precisa neste momento...como chorar um pouco!!!     

      Um casal decide se separar em um tribunal francês. Por ser polonês "Karol" (Zbignew Zamachowski) e não compreender muito bem a língua,  não houve um julgamento justo. Não confunda, karol, é nome de Homem na Europa. Ele praticamente mendigou pelas ruas da França pois seus bens foram bloqueados e favorecidos a sua esposa "Dominiqui" (Julie Delpy). Ela argumentou que ele era impotente sexual ...e realmente era! Tocando um pente como uma gaita conheceu um conterrâneo na plataforma do trem e planejaram voltar a Polônia. Karol não tinha dinheiro e foi escondido dentro da mala. Era tudo um plano para ser assaltado. Karol demorou mais chegou na casa que morou na Polônia e permaneceu por uns tempos lá com seu irmão no qual era cabelereiro. Ele se envolveu com a máfia e deu um golpe comprando um terreno a preço de banada e vendendo-o por 10 vezes mais. Ele não poderia ser morto pois os documentos dariam o terreno a casas de caridade. Dinheiro não era mais problema para para ele. Karol forja seu próprio funeral para atrair Dominiqui a Polônia. Sim, ela foi em seu "funeral" mas depois se apresenta a ela em seu quarto de hotel. Lá tiveram relação sexual como nunca! Karol chama a policia para acusar Dominiqui de ter ido a Polônia para matá-lo. Dominiqui ficou presa por suspeita de assassinato pois como não sabia falar polonês não foi compreendida. A igualdade é branca pois branco é igual em qualquer lugar, mas na França e na Polônia a justiça pendeu para o lado patriota. Este filme (Blanc) foi gravado na sequencia do primeiro. No final da terceira parte você entenderá se karol e Dominiqui terminaram juntos. Que fique claro a você se um dia for até a França: "Não tente falar inglês com eles, vá com um guia turístico e evite fazer mimicas." Ou você fala francês ou fica calado!
     

      Uma coisa em comum nesta trilogia é que o diretor Krzystof Kieslowski se preocupou bem em encontrar as protagonistas. Difícil saber qual das 3 é a mais bela! A fraternidade do vermelho (filme de 1994) já está estampada logo no início do filme. "Valentine" (Irene Jacob) atropela uma cadela, cuida dela e a devolve ao dono. O senhor dono da cadela parece não se importar muito. Valentine não era feliz e pereceu que aquele homem misterioso também não era. Os dois começaram uma relação de amizade tímida. Seu passa tempo preferido era grampear os telefones dos vizinhos pois odiava a vida comum e a TV. Este homem era um ex-juiz e carregava muita culpa. Valentine não o denunciou mas a polícia acabou descobrindo o caso. O vermelho também se encaixa bem no filme, sua câmera capta momentos e lugares que parecem insignificantes. Outra característica é o mistério que torna um filme que parece comum mas que no final revela o valor da vida e do drama que cada rosto carrega. Preste atenção nos sobreviventes da balsa e conclua você mesmo até onde merecemos carregar culpa, viver em depressão ,  viver com medo, infeliz ou sob pressão. Krzystof Kieslowski (que morreu 2 anos depois) soube captar o espirito francês de um povo que sempre aparenta ser feliz mas que já passou por várias guerras e desafios...isso de sobreviver e dar a volta por cima nada como o próprio diretor que era polonês (o país que mais sofreu com a segunda guerra). O final é surpreendente e não espetacular caso você esteja muito acostumado com cinema hollywoodiano! Nada contra o cinema americano pois também sou um grande fã!  

OBS: Krzystof Kieslowski também foi o diretor da série Dekalog. 10 filmes, cada um representando os 10 mandamentos. Pelo menos eu, assisti o primeiro de 1989 e gostei mas não encontrei o restante do box. Se alguém puder me ajudar...obrigado.                

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