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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Cinema Nacional

      Embora exista há mais de 100 anos, somente nos últimos 15 que o cinema nacional caiu de vez no gosto dos brasileiros em massa. Da mesma forma que existe uma sigla para a música popular brasileira (MPB) eu digo que deveria existir uma sigla "CPB" para se referir ao "cinema popular brasileiro", dividindo-o em duas formas. Explico: 
Companhia de cinema Vera Cruz em SBC só durou até 1954
O Brasil é dono de vários clássicos (ver lista no final da página) com repercussão internacional desde os anos 50 que infelizmente são esquecidos ou totalmente desapercebido pelo grande público. Brasileiro gosta de se identificar com os personagens, por isso eu avalio que filmes com contexto histórico não causam tanto impacto como um filme que tenha pessoas pobres em lugares parecidos com os que elas moram. Nossos diretores não são bobos e de 2000 pra cá muitos filmes foram lançados assim, com o "linguajar" do povo! Eu não tenho nada contra isso, até gosto muito deste tipo de visão tanto é que destaquei 2 filmes deste gênero mais popular...no qual me refiro a sigla "CPB".
      Houve um tempo que o cinema era a maior forma de entretenimento junto com as partidas de futebol nos estádios e estavam sempre lotados. Com a popularização da televisão, somente os filmes de muita propaganda ou de muito apelo atingiam tal bilheteria. Foi ai que o cinema estrangeiro passou a sustentar as "casas" durante muito tempo. Atualmente, mesmo com muito mais opções de lazer, o cinema nacional consegue lotar nossas salas (hoje em dia a maioria em shoppings) que até outro dia estavam extintas. Quem nunca viu um antigo cinema que acabou virando uma boate de quinta categoria? 
     Eu não acredito que o cinema nacional ira "cair" novamente como aconteceu com as grandes produtoras do passado. A Vera Cruz (foto acima) por exemplo que infelizmente faliu por sua má administração. Também é inegável que a economia do país refletiu nas fracas produções durante décadas onde 3 ou 4 filmes bons  apenas se destacavam. O período dos militares foi muito "bom" para a criatividade musical, mas para o cinema mais atrapalhou do que ajudou, intimidando as produções independentes. Nos anos 70 e parte dos 80 o sexo passou a ser mais explorado nas telas e grande parte do público deu retorno positivo a essa ideia onde bundas e peitos (no melhor estilo comédia italiana)ocuparam o lugar das críticas e metáforas contra a forma repressiva do governo brasileiro...exatamente como os militares queriam! 
      Eu espero que esta estabilidade do país (que ainda deixa a desejar) permita o ressurgimento de alguns gêneros no qual o Brasil se destacou no passado como no "terror" do Zé do Caixão (foto acima) e na "comédia" de Mazzaropi (foto ao lado). Que haja muitos relatos históricos e culturais transportados para a "telona" do cinema e que os brasileiros em massa também possam admirar esses estilos de trabalho...e valorizar mais a nossa história!
     Vou destacar agora 5 grandes filmes do cinema nacional, sendo 2 clássicos bem antigos e 3 mais recentes, bem conhecidos do grande público brasileiro: 

O Cangaceiro- A primeira coisa que tem que ser levada em consideração neste filme é que estamos falando de 1953, os recursos eram limitados apesar dos equipamentos serem os melhores para a época. O Brasil ainda não havia produzido nada de impacto internacional até então e o resultado foi tão surpreendente que a Columbia Pictures comprou os direitos do filme, uma vez que a produtora Vera Cruz encontrava-se em falência. O filme não conta a história de Lampião como muita gente pensa, mas os personagens são baseados no cangaceiro (Milton Ribeiro) e sua tropa. O filme é uma aventura com um tom de romantismo paralelo quando um pistoleiro (Alberto Ruschel) foge do bando para salvar uma professora (Marisa Prado) sequestrada por eles. A perseguição que segue até o final conta com um espetáculo de imagens do sertão e da fotografia dos cangaceiros seja enfileirados ao contraste do céu claro ou no musical folclórico "Mulher Rendeira" de autor desconhecido. Pela primeira vez o cinema nacional estava nas telas do mundo causando muita repercussão, principalmente pelo fato de ter acontecido algo semelhante em nossas terras em vida real. Era o Lampião (depois de morto) ficando famoso de vez em todo mundo. A direção é de Lima Barreto.  

O Pagador de Promessas- Este é na minha opinião o filme mais completo a crítica de conflitos religiosos no melhor cenário para isso...a Bahia. Zé do Burro (Leonardo Villar) um homem simples da roça carrega uma cruz desde o sertão até a igreja de Santa Bárbara em Salvador afim de pagar uma promessa. Segundo ele, a santa salvou a vida de seu burro. O padre o impede de entrar na igreja porque Zé inocentemente disse que o milagre foi concedido num terreiro de candomblé. O filme se passa todo nas escadarias da igreja e o drama chama a atenção de todos que passam por ali e tentam tirar proveito da situação. É neste momento que a história ganha um ar de humor, tornado-se muito divertido! Premiado em 12 países e vencedor do festival de Cannes de 1962, "O Pagador de Promessas" tirou até aplausos do presidente Kennedy quando exibido na casa branca. De todos os filmes já produzidos por Anselmo Duarte, sem dúvida este foi o seu maior clássico!

Bicho de 7 Cabeças-2001- Rodrigo Santoro vive o personagem Neto, um adolescente com problemas normais da idade. Filho de um pai radical que ao encontrar um cigarro de maconha em sua roupa resolve interna-lo numa clinica de recuperação de drogados. O lugar é um verdadeiro inferno cheio de pacientes com problemas mentais que se tornam piores a medida em que recebem tratamento forçado. O filme transmite bem a ideia do preconceito e da falta de informação em relação a esta situação e conduta médica. Recheado de uma trilha sonora para louco nenhum botar defeito, o filme alterna momentos de violência, comédia e muito drama. Este ótimo trabalho Ítalo-brasileiro com direção de Laís Bodanzky fez decolar a carreira de Santoro...um prêmio mais do que merecido por sua ótima atuação! 

Cidade de Deus-2002- Não há um filme que explique tão bem todo o circuito do poder, no comandado pelos pontos de venda de drogas como este. Era o início do crime organizado tomando conta dos morros entre os anos 60 e 80. O filme foi baseado numa história real que aconteceu quando Zé Pequeno (Leandro Firmino) e "Mané Galinha" (Seu Jorge) travaram um verdadeiro duelo de muita matança nas favelas do Rio de Janeiro. O garoto Buscapé (Alexandre Rodrigues), morador da região acabou se tornando repórter por registrar bons momentos desta guerra com sua máquina fotográfica. Tudo no filme é muito bom, o roteiro, a narrativa e principalmente os efeitos de câmera tornado a fotografia do filme o seu ponto mais forte! Cidade de Deus concorreu a muitos prêmios no exterior e obteve muito êxito. Aqui no Brasil foi rejeitado no início por ser taxado de "muito violento", mas depois que foi transmitido na Globo tornou-se quase uma unanimidade! A direção é de Fernando Meirelles.      


Tropa de Elite 1 e 2- Se há um filme que criou tantos "bordões" no Brasil alguém me avise pois Tropa de Elite 1 de 2007 é tão pesado neste sentido que se tornou febre nacional. A história do Capitão Nascimento (Wagner Moura), linha de frente da polícia mais eficiente do Rio de Janeiro, o Bope, intercala momentos de ação e violência com seu drama da vida pessoal. Em busca de um substituto para sua posição, o filme atinge seu ponto alto justamente nas cenas de treinamento dos oficiais para se tornarem membros da equipe. O diretor José Padilha transmitiu exatamente o que queria e ainda conseguiu vencer o desafio de lançar o segundo filme (o que é ainda mais difícil) sem deixar a bola cair.  Mesmo a segunda parte de 2010 sendo bem diferente da primeira, tem uma trama muito boa se referindo as milícias, alianças entre partidos políticos e a polícia. Como o próprio nome do filme diz, "agora o inimigo é outro"...muito mais forte! A ficção não esta muito distante da realidade e o filme faz todo mundo refletir sobre o assunto. Tropa de Elite conseguiu atingir uma massa enorme de simpatizantes no Brasil. Agora que já sabem a fórmula, eu acredito que novos trabalhos virão seguindo essa linha! 


Lista de outros bons filmes do cinema nacional

Meu Nome não é Johnny- 2008
Olga- 2004
Uma Onda no Ar- 2002
Vidas Secas- 1963
Guerra de Canudos- 1997
À Meia-Noite Levarei Sua Alma- 1963
O Cheiro do Ralo- 2007
Carandiru- 2003
São Paulo S.A- 1964
Joelma 23° Andar- 1976
Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver- 1967
Assalto ao Banco Central- 2011
Tristeza do Jeca- 1961
VIP- 2010
Cabra Marcado para Morrer- 1984
Dois Filhos de Francisco- 2005
O Despertar da Besta- 1969
Central do Brasil- 1998
Assalto ao Trem Pagador- 1962
Jean Charles- 2009 
O Bandido da Luz Vermelha- 1968
Cama de Gato- 2002
Mazzaropi o Corintiano- 1966
Chico Xavier- 2010
O que é isso Companheiro?- 1997
Ônibus 174- 2003
Macunaima- 1969
Noite vazia- 1964
Roberto Carlos a 300 km por Hora- 1971
Noite Vazia- 1964
ABC da Greve- 1990